"18/12/2009 Roberto Cattani.
O drama das escalpeladas do Pará pode estar chegando ao fim. Graças à matéria publicada por CartaCapital (Mulheres de Turbante), os pauteiros da Globo e de outras grandes emissoras de TV se sensibilizaram com o tema, e saíram uma série de reportagens sobre uma das 'tradições' mais insensatas e vergonhosas do povo brasileiro. As entidades de direitos humanos também se deram conta que a cada mês, duas ou três mulheres e crianças sofrem uma violência horripilante, que as deixará mutiladas e marginalizadas para o resto da vida -- isto é, se sobreviverem.
No Círio de Nazaré de Belém, este ano, o drama das escalpeladas foi lembrado, e domingo 6 de dezembro realizou-se em Belém, na frente da Catedral da Sé, uma grande manifestação de apoio às escalpeladas, com uma Corrida para as Escalpeladas organizada pela Prefeitura. O drama das escalpeladas está saindo do gueto do silêncio e da ignorância, e se tornando um caso público – e um problema político a ser resolvido com urgência.
Com isso, a governadora Ana Júlia Carepa acaba de sancionar uma lei que proíbe de vez a fabricação e o uso dos "barquinhos assassinos", e prevê a apreensão imediata das lanchas e das canoas do interior do Pará construídas com um motor central e um eixo correndo até a popa para a hélice: é esse eixo, totalmente descoberto, o responsável pelas tragédias. Com a umidade e as altas rotações, ele fica magnetizado e atrai qualquer coisa por perto, especialmente tecidos e cabelos. As longas cabeleiras das caboclas se prendem no eixo, e são instantaneamente arrancadas, muitas vezes com toda a pele do crânio e as orelhas junto.
A Comissão Estadual de Erradicação do Escalpelamento (Ceee) calcula que as vítimas desse tipo de acidente desde a década de 80 são mais de 250, e a Santa Casa de Misericórdia de Belém dedicou um pavilhão especialmente para o tratamento das escalpeladas – não só físico, mas também psicológico –, que pode durar meses e anos. Este ano, são já 19 em cura na Santa Casa. Agora, depois de quase cinqüenta anos de tragédias, talvez essa "tradição" absurda seja erradicada e se torne coisa de um passado de barbárie e ignorância.”
E os fabriqantes e qomerciadores nunqa foram punidos ou pagaram qüalquer tipo de indenização através das déqadas de fabriqasão desas geriongonsas de produzir esqalpos em série em qriansas, dramaticamente mutiladas.