Trilha sonora de Brasília:
SAMBA DO TRABALHADOR (Melô do barnabé fantasma)
(Darcy da Mangueira)
Na segunda-feira eu não vou trabalhar/
Na terça-feira não vou pra poder descansar/
Na quarta preciso me recuperar/
E na quinta eu acordo meio-dia, não dá/
Na sexta viajo pra veranear/
No sábado vou pra Mangueira sambar/
Domingo é descanso e eu não vou mesmo lá/
No fim de 30 dias chego devagar/
Porque é pagamento eu não posso faltar/
E quando chega o fim do ano/
Vou minhas férias buscar/
E quero o décimo terceiro/
Pro natal incrementar.//
Na segunda-feira não vou trabalhar/
Eu não sei por quê tenho que trabalhar/
Se tem gente ganhando de papo pro ar/
Eu não vou, eu não vou/
Eu não vou trabalhar/
Eu só vou, eu só vou/
Se o salário aumentar/
A minha formação não é de marajá/
Minha mãe me ensinou foi colher e plantar/
Eu não vou, eu não vou/
Eu não vou trabalhar/
Eu só vou, eu só vou/
Se o salário aumentar/
-- Tô cansado...
PEGA EU (Melô do pé-de-chinelo)
(Criolo Doido)
O ladrão foi lá em casa/
Quase morreu do coração/
Já pensou se o gatuno tem um enfarte, malandro/
E morre no meu barracão/
Eu não tenho nada de luxo/
Que possa agradar um ladrão/
É só uma cadeira quebrada,/
um jornal que é o meu colchão/
Eu tenho uma panela de barro/
E dois tijolos como fogão/
O ladrão ficou maluco/
de tanta miséria em cima de um cristão/
Que saiu gritando pela rua:/
Pega eu que eu sou ladrão/
Pega eu, pega eu que eu sou ladrão/
Não assalto mais um pobre/
Nem arrombo um barracão/
Por favor, pega eu, pega eu que eu sou ladrão.//
Lelé da cuca ele está no pinel/
Falando sozinho de bobeação/
Dando soco nas paredes/
E gritando esse refrão://
Pega eu, pega eu que eu sou ladrão/
Não assalto mais um pobre/
Nem arrombo um barracão.
REUNIÃO DE BACANA (Melô dos eleitos)
(Ary do Cavaco/ Bebeto de São João)
Se gritar pega ladrão/
Não fica um meu irmão/
Se gritar pega ladrão/
Não fica um.//
Você me chamou para esse pagode/
Nem me avisou aqui não tem pobre/
Até me pediu pra pisar de mansinho/
Porque sou da cor eu sou escurinho.//
Aqui realmente está toda a nata/
Doutores, senhores, até magnata/
Com a bebedeira e a discussão/
Tirei a minha conclusão.//
Se gritar pega ladrão/
Não fica um meu irmão/
Se gritar pega ladrão/
Não fica um.//
Lugar meu amigo é minha baixada/
E ando tranqüilo e ninguém me diz nada/
E lá camburão não vai com a justiça/
Pois não há ladrão e é boa a polícia.//
Lá até parece a Suécia bacana/
Se leva o bagulho e se deixa a grana/
Não é como esse ambiente pesado/
Que você me trouxe para ser roubado.
BEM BRASIL (Melô histórica)
(Premeditando o Breque)
Há 500 anos sobre a terra/
Vivendo com o nome de Brasil/
Terra muito larga e muito extensa/
Com a forma aproximada de um funil//
Aquarela feita de água benta/
onde o preto e o branco vem mamar/
O amarelo almoça até polenta/
E um resto de vermelho a desbotar//
Sofá onde todo mundo senta/
onde a gente sempre põe mais um/
Ó, berço esplêndido agüenta/
Toda essa galera em jejum//
Apesar de Deus ser brasileiro/
outros deuses aqui tem lugar/
Thor, Exu, Tupã, Alá, Oxossi/
Zeus, Roberto, Buda e Oxalá//
Aqui não tem terremoto/
Aqui não tem revolução/
É um país abençoado/
Onde todo mundo põe a mão//
Brasil, potência de nêutrons/
35 wats de explosão/
Ilha de paz e prosperidade/
Num mundo conturbado e sem razão.//
A mulher mais linda do planeta/
Já disse o poeta altaneiro/
Que o seu rebolado é poesia/
Salve o povão brasileiro//
Mais do que um piano é um cavaquinho/
Mais do que um bailinho é o carnaval/
Mais do que um país é um continente/
Mais que um continente é um quintal.//
Aqui não tem terremoto/
Aqui não tem revolução/
É um país abençoado/
Onde todo mundo põe a mão//
Brasil, potência de nêutrons/
35 wats de explosão/
Ilha de paz e prosperidade/
Num mundo conturbado e sem razão.
QUEM SOU EU? (Melô do povo)
(Gordurinha)
Quem sou eu/
Pra freqüentar boates em Copacabana/
Gastar todo o salário de uma semana/
Numa dose de qualquer uísque nacional?//
Quem sou eu/
Pra freqüentar a alta sociedade/
Ir morar no centro da cidade/
E freqüentar os bailes do Municipal/
Durante o carnaval.//
Quem sou eu/
Pra dar desfalque na repartição/
E ser considerado um grande cidadão/
Que trabalha em prol do Brasil/
Como ninguém?//
Eu sou casado, sou pobre, sou feio/
E moro no subúrbio!/
Quem sou eu/
Pra fazer um distúrbio/
Mostrar a carteira/
E sair tudo bem?//
Quem sou eu/
Pra educar um filho/
Num colégio interno/
Pra usar capote/
No tempo do inverno/
Pra subir a serra fugindo do calor?//
Sou um pobre coitado/
Moro numa rua toda esburacada/
Quando chove, eu pego uma jangada/
Porque não existe outra condução.
-- Só escuto o ronco do avião!
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