Pedro Santos Guerreiro
As pessoas quiseram dizer 'não', mesmo que fiquem sem comer.
O Syriza arriscou tudo e teve uma vitória estrondosa. As instituições europeias falharam, porque perderam o controlo da situação, porque subvalorizaram Tsipras e Varoufakis (que aliás desprezam) e porque não conseguiram impor a ideia de que votar “não” ao acordo de austeridade seria votar “sim” à saída do euro. Mesmo assim, nada é mais impressionante do que a expressão do povo grego. As pessoas que estão na praça Sintagma não estão fartas, estão desempregadas; não querem partir tudo, querem construir algo; não são insubmissas, são indómitas. É preciso muita coragem para, depois de uma semana de caos e sem dinheiro nas caixas multibanco, votar "não" e de forma tão expressiva. É impossível não admirar a força do povo – do povo! – depois de uma votação assim.
Stavros Stellas tem 60 anos e anda de lágrimas nos olhos na Praça Sintagma com a bandeira de Portugal quando a jornalista Joana Pereira Bastos o topa. Porquê a bandeira? Porque estamos a passar pelo mesmo, diz. Mas não da mesma maneira: “O governo português vai ter de explicar ao seu povo porque não lutou pelos direitos das pessoas, como lutou o nosso aqui na Grécia. Vai ter de explicar porque disse que sim a tudo, porque nunca fez frente à UE.” Ouve-se isto e engole-se em seco.”"
http://expresso.sapo.pt/internacional/2015-07-05-Eles-nao-desistiram-de-nos-nos-e-que-estamos-a-desistir-deles