segunda-feira, 27 de novembro de 2017

VERÍSSIMO, DARWIM E UM DEUS

“Darwin no céu

Nos Estados Unidos, hoje, travam-se batalhas judiciais sobre a proibição de se ensinar o evolucionismo, ou a obrigação de se ensinar o criacionismo

26/11/2017 - 11h00

Talvez se encontrassem argumentos mais fortes a favor do tal design inteligente por trás de tudo no universo, segundo a tese antievolucionista, não nos seus triunfos, mas nos seus fracassos.

Por exemplo: o que os salmões precisam fazer para terem direito a uma família, subindo rios contra a correnteza com grande esforço para chegarem ao seu local de origem e procriarem, é um típico projeto mal pensado, que já teria sido corrigido se a evolução fosse ao acaso, como queria Darwin, e premiasse com a sobrevivência quem tivesse desenvolvido um método mais simples de se reproduzir.

Como o dos salmões, há muitos outros casos de erros, contrassensos, anomalias, esquecimentos — os mamilos masculinos, por exemplo, ou a persistência das unhas do pé nos humanos, que não existiriam mais se Darwin tivesse razão — atestando a existência de um designer inteligente, só um pouco distraído.

Uma referência à “criação de Deus” que não estava na primeira edição de “A origem das espécies” de Darwin foi acrescentada nas edições seguintes, uma tentativa dos editores de atenuar a reação das igrejas cristãs à teoria revolucionária. Deve continuar nas edições atuais. A reação nunca diminuiu.

Nos Estados Unidos, hoje, travam-se batalhas judiciais sobre a proibição de se ensinar o evolucionismo, ou a obrigação de se ensinar o criacionismo como alternativa ao evolucionismo, em redes escolares estaduais.

O fortalecimento político da direita religiosa americana devolveu à questão o imediatismo que tinha no século XIX, quando a teoria era nova.

Conceitos como o do “design” inteligente servem para atualizar pelo menos o vocabulário dos que pregam uma interpretação literal da Bíblia. Como a teoria do design não alude especificamente, só implicitamente, a Deus como o criador, ela pode proporcionar um começo de diálogo.

Dizem que Darwin entrou no céu cristão, para a sua grande surpresa, mas durante anos Deus recusou-se a recebê-lo até que ele reconhecesse Sua autoria das espécies, o que Darwin rechaçava.

Agora, já estariam conversando.

Os dois teriam feito concessões, abandonando suas reivindicações radicais, e suas conversas começariam sempre com a frase “Admitamos, como hipótese, que...” A vida sexual dos salmões deve estar sendo muito citada.”

(Cabano, Brasília, 061214)

Oficina mecânica na rua.

(Cabano, Brasília, 061214)

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