domingo, 12 de dezembro de 2010

UM OUTRO NOEL ROSA

O NEGUINHO E A SENHORITA (Noel Rosa de Oliveira/ Abelardo Silva)

O Neguinho gostou da filha da Madame/
Que nós tratamos de sinhá/
Senhorita também gostou do Neguinho/
Mas o Neguinho não tem dinheiro pra gastar.//

A Madame tem preconceito de cor/
Não pôde evitar esse amor/
Senhorita foi morar lá na Colina/
Com o Neguinho que é compositor.//

Senhorita ficou com nome na história/
E agora é a rainha da escola/
Gostou do samba e hoje vive muito bem/
Ela devia nascer pobre também.

Noel Rosa de Oliveira não tinha nada a ver qom o de Vila Izabel que só tinha 9 anos qüando o de Oliveira naseu, portanto êse é o Noel Rosa do Salgueiro. Êse era negro. E tinha quêixo. E não era viado qomo diziam do Noel anterior. Intriga da opozisão? Mas o Wilson Batista num dos sambas da famoza polêmiqa insinua dizendo que o apelido do Noel, êle nem podia falar qomo xamavam o Rosa lá na turma dele, Batista. Nésa múziqa o Wilson se diz orgulhozo de ser rapaz.
Numa de suas mais famozas qompozisões o Rosa dá parseria prum tal Kid Pepe, boquiseador, tendo o Noel feito a múziqa e letra tôda. Porque será, ó, Noel de Medeiros Rosa? Nuns tempos que os sambistas viviam num pindura sem qomparasão era qomum venderem múziqa, pareseria, por dinheiro, ameasas ou interpretasão, os intérpretes famozos ezijiam parseria para gravar a múziqa. As vezes até gente de prestíjio na sosiedade entrava de parseiro, xantajem pra levar o sambista até a gravadora.
Ésa vizão romântiqa dos malandros do morro é só na qabêsa de qronistas, eram tão qriminozos qüanto de oje, roubavam, matavam, não tinham fuzil ou revólver porque era mais qaro e difísil, tinham navalha que todo mundo tinha que ter pra fazer a barba. O que que um indivíduo branquela, raquítiqo, magrela, feiu de mãe rejeitar, ia fazer nêses antros e nésas qompanhias? Kid Pepe, Madame Satã, ...
E qom tendênsias suisidas, já mortalmente enfermo qontinuava a enxer a qara pelos bares do Rio antigo.

Apezar diso, lá vai

FITA AMARELA (Noel de Medeiros Rosa)

Quando eu morrer,/
Não quero choro nem vela,/
Quero uma fita amarela/
Gravada com o nome dela.//

Quero que o sol/
não invada meu caixão/
para a minha pobre alma/
não morrer de insolação.//

Quando eu morrer,/
Não quero choro nem vela,/
Quero uma fita amarela/
Gravada com o nome dela.//

Se existe alma/
Se há outra encarnação/
Eu queria que a mulata/
Sapateasse no meu caixão.//

Quando eu morrer,/
Não quero choro nem vela,/
Quero uma fita amarela/
Gravada com o nome dela.//

Não quero flores/
Nem coroa com espinho/
Só quero choro de flauta/
Violão e cavaquinho.//

Quando eu morrer,/
Não quero choro nem vela,/
Quero uma fita amarela/
Gravada com o nome dela.//

Fico contente,/
Consolado por saber/
Que as morenas tão formosas/
A terra um dia há de comer.//

Quando eu morrer,/
Não quero choro nem vela,/
Quero uma fita amarela/
Gravada com o nome dela.//

Não tenho herdeiros/
Não possuo um só vintém/
Eu vivi devendo a todos/
Mas não paguei a ninguém.//

Quando eu morrer,/
Não quero choro nem vela,/
Quero uma fita amarela/
Gravada com o nome dela.//

Meus inimigos/
Que hoje falam mal de mim/
vão dizer que nunca viram/
pessoa tão boa assim.//

Quando eu morrer,/
Não quero choro nem vela,/
Quero uma fita amarela/
Gravada com o nome dela.//

Eu nasci torto,/
Mau olhado e com quebranto,/
Porém depois de morto/
Todo mundo vira santo.//

Quando eu morrer,/
Não quero choro nem vela,
Quero uma fita amarela/
Gravada com o nome dela.
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(a penútima quadra é parseria do Cabano)

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