terça-feira, 27 de setembro de 2011

PALESTINA IV


“1936 Relatório Peel: a partilha da Terra duplamente Prometida
Numa preocupação de simetria, os ingleses tentaram dotar a comunidade árabe da Palestina com instituições paralelas às da comunidade judaica. Em vão.Apenas se estabeleceu um Conselho Supremo Muçulmano sob a presidência do reaccionário Mufti de Jerusalém, mas com a antiga filosofia otomana que reconhecia cada grupo religioso como um órgão de direito público, nada de excessos democráticos.
Mas na década de vinte (entre 1921 e 1929) as relações árabo-judaicas pareceram estabilizar, com contactos regulares entre as duas comunidades, sendo em Haifa que se parece ter encontrado um intercâmbio cultural, um equilíbrio harmonioso.
O Mufti de Jerusalém, não obstante, mantém sempre um discurso rancoroso que se vai entranhando nos árabes, e virá a ser impropriamente apelidado de anti-semita (ao contrário do que julgam os árabes, etnicamente semitas também, dão tiros nos pés com esse discurso de ódio antigo).
No mesmo período, Judah Magnes o primeiro presidente da Universidade Hebraica de Jerusalém, fundou um clube arabo-judaico (o Brit Chalom) para promover um estado binacional, mas quase nenhum eco consegue no lado árabe, dominado pelos grandes agrários; o conflito já estava profundamente inscrito na terra duplamente prometida.
Haim Arlosoroff, jovem chefe da diplomacia do quase – estado judaico num encontro com Anni Bey Abdul Hadi, do partido nacionalista árabe Istiqlal, ouve palavras claras : não existe nenhum mal entendido entre árabes e judeus… existe um conflito de interesses fundamental e impossível de negociar.
E em Agosto de 1929 um grave incidente no Muro das Lamentações, em Jerusalém irá provocar centenas de vítimas entre os judeus, obriga a pedirem reforços ao Egipto e resultando no enforcamento de três árabes.

Em 1936 os ataques contra judeus generalizam-se. De motins esporádicos passa-se para a revolta aberta, uma guerrilha árabe de apoio popular. Os ingleses declaram a lei marcial na Palestina.
Entretanto entram em cena as milícias judaicas, a Haganah oficial e o Irgun dos sionistas radicais, muito menos selectivo nos ataques.
A instalação do Nazismo na Alemanha em 1933, contribuirá também para a deterioração da situação, forçando o aumento da imigração para a Palestina (reduzida até 1928) levando os recordes: 30.000 em 33; 61.000 em 35.
Com essa pressão constante, em 1936 os judeus eram já 30% da população da palestina, o que do ponto de vista árabe representa uma ameaça crescente.
Em Outubro desse ano Londres lança mais uma comissão de inquérito, presidida por Lord Peel; além de uma anterior (Shaw 1930) já ter posto em causa a emigração sem controlo invocando falta de bases económicas no território, a Comissão Peel vai definitivamente pôr em causa a ideia de um estado único na Palestina.
À pergunta sobre a possibilidade de absorção dos já 400.000 judeus instalados na Palestina, o Mufti de Jerusalém responde assim: “não, os judeus devem ser expulsos ou “eliminados de uma maneira ou de outra”.
A Comissão conclui que a intransigência árabe é tão forte que já não se podem aplicar paliativos, mas apenas a cirurgia; dois povos que adquiriram uma consciência nacional não podem viver em pé igualdade no mesmo país; propõe-se pois a partilha pura e simples em dois estados.
O Relatório Peel publicado em 1937 constata assim a oposição irredutível entre as aspirações judaicas e árabes:
“Nas circunstâncias actuais, estamos convictos de que a Paz, a Ordem e o Governo não poderão ser mantidos na Palestina seja pelo tempo que for, senão por uma rigorosa repressão… e o pior é que essa política não leva a parte alguma. Por mais vigor com que seja aplicada, não resolverá o problema e ainda exasperará mais o conflito. O estabelecimento de um governo único na Palestina é impossível.”
A comissão propõe uma troca de terras semelhante ao precedente Greco-Turco, feito segundo um acordo entre dois estados e a Sociedade das Nações aprova o proposto.
No XX Congresso Sionista de Zurique, Weizmann e Gourion fazem aceitar o principio da partilha aos radicais (pretendiam um estado judaico incluindo a Transjordania, o grande Israel) pondo em evidencia o drama dos 6 milhões (!) de judeus que aguardavam na Europa ante a ameaça Nazi.
Pelo seu lado o Congresso Pan-árabe de Bludan (Síria), no mesmo ano, faz da preservação da unidade Palestina um “dever sagrado” de todos os árabes.

A guerrilha árabe imobiliza a partir de 1937 uma guarnição britânica de 20.000 homens; chefes árabes são deportados para as Seychelles, casas são dinamitadas e os voluntários da Haganah e do Irgun aplicam-se no terrorismo, fazendo explodir bombas em mercados e cafés.
Estamos, não em 2006, mas em 1937… quase setenta anos!”

“1923 o Livro Branco e um erro àrabe
O mandato sobre a Palestina conferido pela Sociedade das Nações à Inglaterra em 1922, reproduzia as contradições da política britânica (e ocidental); o preâmbulo refere simultaneamente a declaração Balfour e o art. 22 do Pacto da SDN.
Esse artigo é consagrado aos “povos ainda não capacitados de se governarem a si mesmos”; nessa perspectiva a tutela seria confiada às nações desenvolvidas que exerciam na qualidade de mandatários em nome da SDN, e obrigando-se a tomar em consideração os sentimentos das comunidades administradas.

Quer isto dizer que o art. 22 obrigava a Inglaterra a ter em consideração o interesse da população árabe e a declaração Balfour definia obrigações para com a comunidade judia minoritária.
Essas duas condições eram inconciliáveis, salvo no caso particular de uma imigração massiva que criasse uma maioria judaica sem oposição dos árabes.

Os primeiros motins árabes aconteceram logo em 1920 em Jerusalém e na Galileia; Surpreendidos, ingleses e sionistas tomam consciência do risco de um conflito maior entre árabes e judeus.

Em Londres, o novo ministro das colónias, Winston Churchill reage em dois planos:
- Edição de um Livro Branco com uma nova declaração de intenções que apazigúe as duas comunidades
- Estabelecimento de um órgão legislativo que esboce uma estrutura constitucional

O Livro Branco de 1922 retoma a interpretação minimalista da declaração Balfour que já aparecera no Relatório King-Crane de 1919; Londres afirma que “em nenhum momento pretendeu o desaparecimento ou subordinação da população árabe, da sua língua e cultura na Palestina”

A instauração do "Palestine Order in Council" modifica o regime de administração directa como colónia da Coroa para um orgão representativo com 12 membros eleitos (8 muçulmanos, 2 cristãos e 2 judeus) e 10 membros nomeados pela administração britânica.
Os judeus protestaram logo, pretendendo a paridade de membros com os árabes; estes pelo seu lado cometem um erro grave: boicotam as eleições de Fevereiro de 1923 enterrando assim o Conselho legislativo.
Com a recusa em participar nas eleições, os árabes pretendiam obrigar a Inglaterra a continuar a administrar directamente a Palestina, o que repugnava cada vez mais a Londres. Mas o resultado real foi empurrarem a administração inglesa para as mãos dos judeus cujas organizações comunitárias depressa formaram uma estrutura de quase –estado.
A organização sionista criou uma Agencia Judaica em 1929 com o apoio de judeus americanos, para organizar a emigração, a compra de terras e as relações externas da comunidade judia palestina.

A prioridade dada ao controlo fundiário e ao trabalho manual suscitou entretanto o movimento dos Kiboutzim com aldeias cooperativas (Mochav), e agricultura colectiva (Kibboutz), uma das experiencias colectivistas mais bem sucedidas da História.
A implantação progressiva do quase–estado judeu, conjugada com o aumento da imigração, irão dar aos judeus palestinos uma massa crítica decisiva.
Antes eram apenas um apêndice da Diáspora, depois a situação inverte-se, transformando-os no verdadeiro centro de decisão política com a Diáspora como força de apoio.”

Os palestinos estavam apenas se defendendo dos invasores judeus e como se pode ver, os judeus também já usavam terrorismo contra os ingleses e contra os palestinos além do que os ingleses juntamente com os yankies foram os responsáveis pela invasão dos judeus portanto responsáveis pela situação que perdura até hoje.
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