“São Paulo, sexta-feira, 30 de dezembro de 2011 FOLHA DE S.PAULO
Para biólogo, aquecimento é 'lobotomia'
Cético da mudança climática causada pelo homem, ele diz que a visibilidade do tema encobre outros problemas
Ex-ministro uruguaio do Meio Ambiente, Aramis Latchinian vê risco à soberania em agenda imposta por países ricos
FLÁVIA MARREIRO
DE são paulo
O aquecimento global é um consenso "muito conveniente" entre diversos governos, ONGs e organismos multilaterais, que suga recursos da cooperação internacional e distorce prioridades na agenda ambiental e acadêmica, especialmente nos países da América Latina.
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Na obra, ele discorda que haja provas de que o componente humano seja relevante no aumento da temperatura do planeta.
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"Há demasiados atores que dependem de que seja nossa culpa [o aquecimento global]. Há uma burocracia gigantesca na ONU, muitas ONGs transnacionais e nacionais que construíram sua estratégia para existir com base na importância do problema", continua ele.
O centro do argumento de Latchinian, porém, é político. Para ele, o "alarmismo" de ONGs transnacionais que pregam "ambientalismo iluminista de corte autoritário" dilui responsabilidades locais e atropela agendas mais importantes: a gestão ambiental nas megalópoles do continente e questões como saneamento básico, despoluição dos rios e correção de más práticas agrícolas.
"O setor acadêmicos nos nossos países -não sei como é profundamente no Brasil- depende da cooperação internacional para pesquisar. Os fundos de cooperação estão condicionados aos temas. Se na Venezuela querem pesquisar o problema do lixo no rio Guaire, o que fazem é dizer: 'efeito do aquecimento global sobre o rio Guaire'. Eu já vi projetos até de psicólogos citando aquecimento global", ironiza ele.
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"Os responsáveis somos todos: é a evangelização que faz Al Gore no seu filme. Mas não é um problema de todos. Quer dizer, ninguém apagou uma luz em Las Vegas. Não foi reduzida a orgia de gasto de energia nos EUA. Se vemos os focos de emissão de gases do efeito estufa, vemos cidades pontuais, e nenhuma cidade latino-americana, nem sequer a Cidade do México, aparece. Seguir essa agenda é perder soberania."
A diatribe do ex-ministro contra a etiqueta do bom ambientalista moderno chega à prática de usar sacolas reutilizáveis nos supermercados. O uruguaio diz que é uma comportamento regressivo, "de voltar ao passado da bolsa da vovó", que não é reproduzível em larga escala.”
("Globotomía - del Ambientalismo Mediático a la Burocracia Ambiental", de Aramis Latchinian (editora Puntocero, ainda sem tradução para o português), livro já lançado na Venezuela, no Uruguai e na Argentina).
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