sábado, 16 de novembro de 2013

AS LENDAS DOS MALANDROS

“Nas festas do morro Brancura é artista/
Nos bailes da cidade ele é capitalista.”

“O golpe do Café São José

6 de maio de 2012 Histórias

As primeiras décadas do século passado coincidem com o período de consolidação do samba como gênero predominante da música popular brasileira. Nessa época, a questão dos direitos autorais estava longe de se consolidar por estas bandas. É célebre a frase de Sinhô: “samba é igual passarinho, é de quem pegar.” São inúmeras as histórias envolvendo sambas comprados, vendidos e surrupiados.

Um caso pitoresco envolve os compositores Brancura e Benedito Lacerda, quem contava era Mario Lago.

O cenário do golpe era o Café São José na Praça Tiradentes, reduto de sambistas e demais profissionais da música. O café possuía uma divisória, separando a área das refeições da área do cafezinho.

Brancura, que gozava de status de malandro e de influente entre os editores musicais, quando ouvia alguma música com possibilidade de gravação, marcava encontro com o compositor no São José. Ao chegar o incauto, Brancura o levava para uma mesa colada à divisória de madeira e pedia que ele cantasse o samba. Do outro lado estava Benedito Lacerda, exímio músico, que munido de lápis e papel de música, colocava na partitura tudo que ouvia.

Quando Benedito dava o sinal de que tudo estava escrito, começava a encenação. Brancura fingia revolta e num tom assustador bradava: “Cabra muito safado é você, vem aqui cantar um samba que é meu! Há cinco dias escrevi esse samba com meu compadre Benedito”.

Nessa hora aparecia Benedito e Brancura perguntava se ele estava com a melodia escrita há poucos dias. Benedito puxava a partitura e cantava o samba recém-copiado.

Os dois proferiam todo tipo de xingamento e, arrematando o um sete um, colocavam o pato pra correr. Dias depois, a música aparecia editada, tendo Brancura como compositor. O samba “Deixa essa mulher chorar”, por exemplo, foi sucesso na voz de Francisco Alves e era de um mulato chamado Ferro.

Há de se fazer justiça. Apesar do episódio contado, Brancura e Benedito Lacerda eram grandes compositores e têm importantes serviços prestados à nossa música popular.