domingo, 5 de janeiro de 2014

OS MARCIANOS SÃO NEGROS

“UMA SOMBRA PASSOU POR AQUI

O outro pé

Ouvindo a notícia, esvaziaram-se os restaurantes cafés, hotéis, e todosolharam para o céu. Colocaram as mãos escuras sobre os olhos brancos,voltados para cima, boquiabertos. Sob o sol quente, a milhares dequilômetros, em pequenas cidades, gentes escuras, com as sombras no chão,olhavam para cima. Na cozinha, Hattie Johnson cobriu a sopa fumegante, enxugou os dedosnum pedaço de pano e dirigiu-se lentamente para o terraço dos fundos. — Venha, mãe! Hei, mãe, venha... ou você perderá a chegada! Hei, mãe!Três negrinhos dançavam, e gritavam de excitação no quintalempoeirado. Vez por outra, olhavam nervosamente para a casa. — Estou indo — disse Hattie, abrindo a porta de tela. — Onde é quevocês ouviram o boato? — Na casa dos Jones, mãe. Está vindo um foguete, o primeiro em vinteanos, com um homem branco dentro dele! — O que é um homem branco? Eu nunca vi nenhum. — Você descobrirá — respondeu Hattie. — Sim realmente, vocês vãodescobrir. — Fale-nos a respeito deles, mãe. Fale como falava antes.Hattie fez uma carranca. — Bem, isto foi há muito tempo. Eu era uma garota, vocês sabem. Isto aconteceu em 1965. — Conte-nos como são os homens brancos, mãe No quintal, elaobservou o claro e azul céu marciano, as nuvens esgarçadas e, a distância, ascolinas escaldadas pelo calor. Disse, finalmente: — Bem, em primeiro lugar, eles têm mãos brancas. — Mãos brancas! — Os garotos pilheriaram dando-se palmadinhas nascostas. — E têm braços brancos. — Braços brancos! — zombaram os garotos em vozes agudas. — E rostos brancos. — Rostos brancos? De verdade? — Branco assim,mãe? — O menorzinho lançou um pouco de poeira no próprio rosto, espirrando. — Assim?— Mais branco — respondeu ela gravemente, observando novamente océu. Havia uma sombra de preocupação em seus olhos, como se estivesse procurando localizar um aguaceiro, não o visse e isto a preocupasse. — Melhor vocês entrarem.

...”

(Ray Vradbury)

(continua ... na Internet)