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O divórcio de Henrique VIII
Thomas Wolsey, Arcebispo de York, não foi bem sucedido na sua tentativa de conseguir nem o divórcio, nem a anulação do casamento do rei com Catarina de Aragão como pretendia Henrique VIII de Inglaterra e foi forçado a demitir-se em 1529. More foi nomeado chanceler em sua substituição, sendo evidente que Henrique ainda não se tinha apercebido da retidão de caráter de More nesta matéria.
Sendo profundo conhecedor de teologia e do direito canônico e homem piedoso - More via na anulação do sacramento do casamento uma matéria da jurisdição do papado, e a posição do Papa Clemente VII era claramente contra o divórcio em razão da doutrina sobre a indissolubilidade do matrimônio. Contrário às Reformas Protestantes então já efetuadas e percebendo que na Inglaterra poderia acontecer o mesmo (devido às questões pessoais do soberano que conduziram à crise político-diplomática com Roma), More - apoiante das decisões da Santa Sé e arraigadamente católico - deixa seu cargo de Lord Chancellor do rei em 16 de maio de 1532, provocando desconfiança na Corte e em Henrique VIII particularmente.
A reação de Henrique VIII foi atribuir-se a si mesmo a liderança da Igreja em Inglaterra sendo o sacerdócio obrigado a um juramento ao abrigo do Ato de Supremacia que consagrava o soberano como chefe supremo da Igreja.
More escapara, entretanto, a uma tentativa de o implicar numa conspiração. Em 1534, o parlamento promulgou o "Decreto da Sucessão" (Succession Act), que incluía um juramento reconhecendo a legitimidade de qualquer criança nascida do casamento de Henrique VIII com Ana Bolena, sua segunda esposa, e repudiando "qualquer autoridade estrangeira, príncipe ou potentado". Tal como no juramento de supremacia, este apenas foi exigido àqueles especificamente chamados a fazê-lo, por outras palavras, a todos os funcionários públicos e àqueles suspeitos de não apoiarem Henrique.
Martírio
More foi convocado, excepcionalmente, para fazer o juramento em 17 de abril de 1534, e, perante sua recusa, foi preso na Torre de Londres, juntamente com o Cardeal e Bispo de Rochester John Fisher, tendo ali escrito o "Dialogue of Comfort against Tribulation". A sua decisão foi manter o silêncio sobre o assunto. Pressionado pelo rei e por amigos da corte, More decidiu não enumerar as razões pelas quais não prestaria o juramento.
Inconformado com o silêncio de More, o rei determinou o seu julgamento, sendo condenado à morte, e posteriormente executado em Tower Hill a 6 de julho. Nem no cárcere nem na hora da execução perdeu a serenidade e o bom humor e, diante das próprias dificuldades reagia com ironia. Mesmo nos últimos quatro dias de vida não abandonou os rigores da penitência, com desejos de purificação.[3] Na segunda-feira, 5 de julho, enviou à sua filha Meg a camisa-cilício e uma pequena carta escrita com a ponta de um graveto. São as últimas palavras que escreveu.
Pela sentença o réu era condenado "a ser suspenso pelo pescoço" e cair em terra ainda vivo. Depois seria esquartejado e decapitado. Em atenção à importância do condenado o rei, "por clemência", reduziu a pena a "simples decapitação". Ao tomar conhecimento disto, Tomás comentou: "Não permita Deus que o rei tenha semelhantes clemências com os meus amigos." No momento da execução suplicou aos presentes que orassem pelo monarca e disse que "morria como bom servidor do rei, mas de Deus primeiro."
A sua cabeça foi exposta na ponte de Londres durante um mês, foi posteriormente recolhida por sua filha, Margaret Roper. A execução de Thomas More na Torre de Londres, no dia 6 de julho de 1535 "antes das nove horas", ordenada por Henrique VIII, foi considerada uma das mais graves e injustas sentenças aplicadas pelo Estado contra um homem de honra, consequência de uma atitude despótica e de vingança pessoal do rei. Ele está sepultando na Capela Real de São Pedro ad Vincula.
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Mas aí já é gozação:
"Patrono dos políticos e dos governantes
Em 2000, São Thomas More foi declarado "Patrono dos Estadistas e Políticos" pelo Papa João Paulo II:
Esta harmonia do natural com o sobrenatural é talvez o elemento que melhor define a personalidade do grande estadista inglês: viveu a sua intensa vida pública com humildade simples, caracterizada pelo proverbial «bom humor» que sempre manteve, mesmo na iminência da morte.
Esta foi a meta a que o levou a sua paixão pela verdade. O homem não pode separar-se de Deus, nem a política da moral: eis a luz que iluminou a sua consciência. Como disse uma vez, "o homem é criatura de Deus, e por isso os direitos humanos têm a sua origem n'Ele, baseiam-se no desígnio da criação e entram no plano da Redenção. Poder-se-ia dizer, com uma expressão audaz, que os direitos do homem são também direitos de Deus" (Discurso, 7 de abril de 1998). É precisamente na defesa dos direitos da consciência que brilha com luz mais intensa o exemplo de Tomás Moro. Pode-se dizer que viveu de modo singular o valor de uma consciência moral que é "testemunho do próprio Deus, cuja voz e juízo penetram no íntimo do homem até às raízes da sua alma" (Carta enc. Veritatis splendor, 58), embora, no âmbito da acção contra os hereges, tenha sofrido dos limites da cultura de então"
(texto: Wikipédia)
(fotograma do filme "O Homem Que Não Vendeu Sua Alma", do cineasta Fred Zinnemann)
(Cabano, Brasília, 090217)