“Darwin no céu
Nos Estados Unidos, hoje, travam-se batalhas judiciais
sobre a proibição de se ensinar o evolucionismo, ou a obrigação de se ensinar o
criacionismo
26/11/2017 - 11h00
Talvez se encontrassem argumentos mais fortes a favor
do tal design inteligente por trás de tudo no universo, segundo a tese
antievolucionista, não nos seus triunfos, mas nos seus fracassos.
Por exemplo: o que
os salmões precisam fazer para terem direito a uma família, subindo rios contra
a correnteza com grande esforço para chegarem ao seu local de origem e procriarem,
é um típico projeto mal pensado, que já teria sido corrigido se a evolução
fosse ao acaso, como queria Darwin, e premiasse com a sobrevivência quem
tivesse desenvolvido um método mais simples de se reproduzir.
Como o dos salmões, há muitos outros
casos de erros, contrassensos, anomalias, esquecimentos — os mamilos
masculinos, por exemplo, ou a persistência das unhas do pé nos humanos, que não
existiriam mais se Darwin tivesse razão — atestando a existência de um designer
inteligente, só um pouco distraído.
Uma
referência à “criação de Deus” que não estava na primeira edição de “A origem
das espécies” de Darwin foi acrescentada nas edições seguintes, uma tentativa
dos editores de atenuar a reação das igrejas cristãs à teoria revolucionária.
Deve continuar nas edições atuais. A reação nunca diminuiu.
Nos
Estados Unidos, hoje, travam-se batalhas judiciais sobre a proibição de se
ensinar o evolucionismo, ou a obrigação de se ensinar o criacionismo como
alternativa ao evolucionismo, em redes escolares estaduais.
O fortalecimento político da direita
religiosa americana devolveu à questão o imediatismo que tinha no século XIX,
quando a teoria era nova.
Conceitos como o do “design”
inteligente servem para atualizar pelo menos o vocabulário dos que pregam uma
interpretação literal da Bíblia. Como a teoria do design não alude
especificamente, só implicitamente, a Deus como o criador, ela pode
proporcionar um começo de diálogo.
Dizem que Darwin entrou no céu cristão,
para a sua grande surpresa, mas durante anos Deus recusou-se a recebê-lo até
que ele reconhecesse Sua autoria das espécies, o que Darwin rechaçava.
Agora,
já estariam conversando.
Os dois teriam feito concessões,
abandonando suas reivindicações radicais, e suas conversas começariam sempre
com a frase “Admitamos, como hipótese, que...” A vida sexual dos salmões deve
estar sendo muito citada.”