Há gente para quem/ tanto faz dentro e fora/ e por isso procura/ viver fora de portas.//
E em contra existe gente,/ Mais rara, em boa hora,/ Que se mostra por dentro/ E se esconde por fora://
Dela é o poeta-hortelão/ Que se tranca na horta/ Para cuidar melhor/ Sua literária flora;//
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Há gente que se aquece/ por dentro, e há em troca/ pessoas que preferem/ aquecer-se por fora.//
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Há gente que se gasta/ de dentro para fora,/ E há gente que prefere/ gastar-se no que choca.//
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Há gente que se infiltra/ dentro de outra, e aí mora,/ vivendo do que filtra,/ sem voltar para fora.//
E passa uma outra gente/ Que se infiltra e retorna,/ Vivendo com o de dentro/ Que subtraiu, na volta.//
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(João Cabral de Melo Neto)