Para o escritor norte-americano Michael Pollan, a profusão e a variedade de diferentes alimentos disponíveis para consumo humano nos dias de hoje, especialmente os industrializados, levou a sociedade contemporânea de volta ao "dilema do onívoro", expressão batizada pelo psicólogo Paul Rozin e que explica a situação de liberdade e insegurança em que se pode comer de tudo e com isso se envenenar, no curto ou no longo prazo.
Com isso em mente, Pollan foi pesquisar as origens dos alimentos consumidos cotidianamente pelos Estados Unidos e chegou a uma conclusão, enquanto entrevistava Todd Dawson, biólogo de Berkeley: "Quando se observa a proporção dos isótopos, nós, norte-americanos, parecemos espigas de milho com pernas." Os isótopos é a análise química que comprova a origem das calorias consumidas por uma pessoa. O milho está na base de tudo o que os norte-americanos comem, e com isso, eles se tornam um pouco milho também.
"Quando comecei a tentar seguir a cadeia alimentar industrial, esperava que minhas investigações fossem me levar a uma enorme variedade de lugares. E, apesar de as minhas viagens de fato me levarem a um grande número de estados, e de cobrirem muitos quilômetros, exatamente no fim dessas cadeias alimentares (o que vale dizer, no começo de tudo), eu invariavelmente fui parar no mesmo lugar: uma fazenda no Cinturão do Milho americano, a região do Meio-Oeste do país conhecida pelo cultivo dessa planta. Acaba-se descobrindo que o grande edifício de variedade e opções que é o supermercado americano tem fundações biológicas notavelmente restritas a um pequeno grupo de plantas dominadas por uma única espécie: Zea mays, a erva tropical gigante que a maioria de nós conhece como milho."
"É o milho que alimenta o novilho que se transforma no bife. O milho alimenta a galinha e o porco, o peru e o cordeiro, o bagre e a tilápia e, cada vez mais, até o salmão, um carnívoro por natureza que os criadores de peixe estão submetendo a uma reengenharia para que passe a tolerar o milho. Os ovos são feitos de milho. O leite e o queijo e o iogurte, que antes vinham das vacas leiteiras que se alimentavam no pasto, agora costumam vir das vacas holstein, que passam sua vida útil num estábulo, ligadas às máquinas, comendo milho."
"Vamos adiante para a seção de comidas processadas e encontramos manifestações ainda mais intricadas do milho. Num nugget de galinha, por exemplo, o milho se sobrepõe ao milho: a galinha ali contida consiste em milho, é claro, mas também os outros ingredientes do nugget, incluindo o amido de milho geneticamente modificado que dá a liga responsável pela consistência da coisa, a farinha de milho na massa que reveste e o óleo de milho no qual q peça é frita. E, o que é muito menos óbvio, as leveduras e a lecitina, os mono, di e triglicerídios, a atraente cor dourada, e até mesmo o ácido cítrico que mantém o nugget "fresco", todos podem ser derivados do milho."
"Ao acompanhar seus nuggets de frango com qualquer refrigerante, você estará acrescentando milho ao milho. (...) Leia os ingredientes na embalagem de qualquer alimento processado e, contanto que saiba decifrar os termos químicos que o disfarçam, milho é o que você encontrará."
"O milho está no creme para o café, no iogurte congelado e na refeição semi-pronta, na fruta em lata, no ketchup e nos doces, nas sopas e tira-gostos e misturas para bolo, nos waffles com cobertura e nos congelados, nos xaropes e molhos quentes, na maionese e na mostarda, nos cachorros-quentes e no molho à bolonhesa, na margarina e na manteiga de bolo, no molho para saladas e nos condimentos e até nas vitaminas. Num supermercado médio americano, é possível encontrar cerca de 45 mil itens e mais de um quarto deles atualmente contém milho. Isso também vale para os itens não comestíveis: tudo, da pasta de dentes até os cosméticos e as fraldas descartáveis, sacos de lixo, produtos de limpeza, fósforos e pilhas, até mesmo a película brilhante que recobre a capa da revista que chama sua atenção na banca: milho. Mesmo no setor de legumes e verduras, quando não existe nenhum milho à vista, você acabará encontrando muito milho: na cera vegetal com a qual os pepinos são recobertos e que lhes dá um brilho extra, nos pesticidas responsáveis pela perfeição exibida pelos produtos, até mesmo no revestimento das embalagens de papelão de que foram revestidos. Na realidade, o próprio supermercado - as divisórias e folhas de material prensado, o linóleo, a fibra de vidro e os adesivos com os quais as instalações foram construídas - consiste, de alguma forma, numa manifestação do milho." (Postado por Daniel Buarque, 8 de Janeiro de 2008).
Olha aí o rezultado de tanto milho, nem qarese de engenharia jenétiqa.
(Visconde de Sabugosa, qriasão imortal do Monteiro Lobato, dezenhado pelo Le Blanc)