O livro sobre nada
Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira./ Tem mais presença em mim o que me falta./ Melhor jeito que achei pra me conhecer foi fazendo o contrário./ O meu amanhecer vai ser de noite./ Melhor que nomear é aludir. Verso não precisa dar noção./ Sábio é o que adivinha./ Para ter mais certezas tenho que me saber de imperfeições./ A inércia é meu ato principal./ Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas quando não desejo contar nada, faço poesia./ Eu queria ser lido pelas pedras./ Aonde eu não estou as palavras me acham./ Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas./ Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos./ O artista é erro da natureza. Beethoven foi um erro perfeito./ O branco me corrompe./ Não gosto de palavra acostumada./ Palavra poética tem que chegar ao grau de brinquedo para ser séria./ Não preciso do fim para chegar./ Do lugar onde estou já fui embora.
(versos escolhidos)
Não adianta esconder que a Polícia Federal descobre tudo.
Antigamente chamavam os dicionários de pai-dos-burros, mas isso é burrice, ele é o pai dos inteligentes, só quem consulta dicionários é inteligente, justamente porque consulta e aprende e os burros são burros porque não consultam dicionários.
(Cabano, Btasília, 171114).