(Chema Madoz)
Haja frescura em cima duma cachaça colorida.
As 3 primeiras são cervejas importadas, mesmo, a quarta é rótulo genérico da esmagadora maioria das cervejas vendidas no Brasil. Onde se lê "cereais não maltados", a tradução é "milho". Ou seja, pensas que tomas cerveja, tomas suco de milho. Até marcas famosas no exterior, engarrafadas e enlatadas aqui, viram suco de milho e arroz.
Vi um rótulo duma garrafa de cerveja italiana (Birra XXX), li o rótulo oposto e lá estava impresso no Brasil: "Ingredientes: Água, Malta de Cebada, Maiz, Lúpulo". em baixo a tradução: "Ingredientes: "Água, Malte, Cerais não Maltados e Lúpulo". Em italiano, milho é "mais", sílaba tônica no "a", a gráfica deve ter se enganado e imprimiu com "z". Entenderam? Na Itália a lei é rigorosa, obriga a declarar especificamente o que estás tomando, aqui no Brasil o governo é cúmplice da trapaça em cima do consumidor. O nome científico do milho é Zea mays.
A palavra "milho" é derivada do Latim "miliu"; "milium": milho miúdo. (100615)
"Os traficantes malvados e a cerveja de milho
Publicado em 21 de agosto de 2013 por Tarso Araujo
Já provou cerveja de milho? Se você já bebeu Bohemia, Skol, Antarctica ou Nova Schin, por exemplo, a resposta é sim. Todas elas levam na sua receita até 45% de milho – substituto barato da cevada maltada, ingrediente da receita original desta nobre bebida. Já se sabe dessa malandragem pelo menos desde o ano passado, quando uma pesquisa da USP e da Unicamp analisou as cervejas brasileiras e constatou que as cervejarias nacionais usam nos seus produtos quase 45% de milho, limite máximo permitido por lei. A novidade, noticiada pela Folha, é que as cervejarias estão batalhando para colocar ainda mais milho na sua cerveja – até 50%. Seria a verdadeira cerveja de Maizena.
A cerveja é a bebida mais antiga que a humanidade produziu. E ela sempre foi feita de cevada, primeiro cereal que o homem plantou e colheu. E esse pioneirismo do grão talvez não seja coincidência – estudiosos da revolução do neolítico (período em que desenvolvemos a agricultura, há de 10 mil anos), consideram a hipótese de o homem ter desenvolvido as primeiras técnicas agrícolas justamente para fabricar cerveja. Se você leu o Almanaque das Drogas, já sabe disso. Na era medieval, a Europa começou a ter problema de intoxicação por causa de cervejas feitas com ingredientes duvidosos e monges alemães que fabricavam cerveja baixaram um decreto com os ingredientes essenciais e obrigatórios da cerveja – e lá estava o malte de cevada como único grão aceito. É dele que vem o açúcar que as leveduras usam na fermentação para produzir álcool e gás carbônico. Quando se muda o grão que as leveduras “comem”, muda também o sabor do produto final.
Os mestres cervejeiros daqui apelam para essa mistura porque a produção de cevada brasileira é pequena, e nosso know how sobre o processo de maltagem é baixo. Então praticamente todo malte usado em nossas cervejas é importado e, logo, caro. Então eles colocam milho para deixar a cerveja mais barata. Uma grande sacanagem com o consumidor. Porque cerveja com mais milho é menos cerveja. Não tem saída, ela fica diferente mesmo. Só não dá para dizer que fica pior porque tem gosto para tudo – quem sabe você não gosta mesmo é do fermentado de milho?
A sacanagem é ainda mais cruel se levarmos em conta algumas questões econômicas. A primeira é que já pagamos um preço absurdamente caro por uma garrafa de cerveja. Em São Paulo e Rio de Janeiro não é difícil achar um bar que venda 600 ml por R$ 8. A outra questão é que a Ambev, produtora das marcas mais vendidas do país, é dona da 4a maior margem de lucro sobre a venda entre as empresas brasileiras. De cada R$ 100 vendidos pela cervejeira, R$ 49,80 é lucro.*
Isso quer dizer que eles não precisam piorar a cerveja para manter seu negócio lucrativo. Os donos da Ambev são os homens mais ricos do país – Jorge Paulo Leman, sócio majoritário, tem uma fortuna de R$ 38 bilhões. Esses comerciantes de drogas poderiam ganhar um pouquinho menos por garrafa para manter nossa cerveja ruim como já é. Não precisava piorá-la. Mas eles preferem fazer isso a ganhar alguns centavos a mais. E ainda acham que só os fabricantes de drogas ilícitas é que são malvados e gananciosos, capazes de “malhar” seus produtos.
(almanaque das drogas)