segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

CRIMINOSOS

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Tereza Andrade disse, ao site de VEJA, que ela e colegas de trabalho estranhavam a remoção de estruturas do 3º andar, em uma intervenção que durava aproximadamente seis meses. “A porta do elevador abria e víamos que não havia mais paredes. Todos ficaram espantados, mas ninguém fez queixa formal. Nós nos perguntávamos como permitiram uma obra assim”, disse.
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Presidente da Comissão de Análise e Prevenção de Acidentes do CREA-RJ (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura), Luiz Antonio Cosenza também estranha a ausência de paredes e estruturas no 3º andar, como relataram os frequentadores do edifício. “Como era um prédio antigo (construído na década de 50), não havia condição de existir ali um grande vão. Infelizmente, é comum que pedreiros, por exemplo, mexam em vigas para passar tubulações, sem saber que estão comprometendo a segurança de todo um edifício”, disse.

Construções antigas – Especialistas ouvidos pelo site de VEJA explicam que a gravidade do desabamento está relacionada à época da construção dos prédios – entre os anos 1930 e os anos 1950. Não porque o fato de serem antigos signifique que são frágeis. Nos anos 1970, eles passaram incólumes pela construção do metrô, uma obra altamente impactante, que mexe com o nível do lençol freático e poderia ter provocado abalo nos alicerces. A questão central reside nas técnicas de construção e nos materiais utilizados, que fazem das paredes elementos de sustentação fundamentais nas três edificações. Derrubá-las indiscriminadamente equivale ao que seria derrubar os pilares de uma edificação contemporânea. A se confirmar que isso foi feito no terceiro andar do Edifício Liberdade, que suportava o peso de outros 17 pavimentos - significa completa incompetência técnica ou, pior, total irresponsabilidade.

Nos anos 1950, quando foi construído o Liberdade, o uso do concreto armado já era disseminado. Mas as normas técnicas ainda eram incipientes. Em monumentos arquitetônicos da moderna arquitetura brasileira, como o prédio do Ministério da Educação, grandes arquitetos lançavam mão de calculistas geniais que conseguiam sustentar grandes estruturas sobre pilares delgados. No cotidiano de uma cidade que crescia em ritmo acelerado, havia construtores que trabalhavam com alta dose de empirismo, construindo prédios cuja solidez dependia de pilares de concreto mas também, e muito, de grossas paredes de alvenaria, bem diferentes das atuais, que funcionam quase que só como divisórias.

Essa característica estrutural ajuda a explicar por que, ao contrário do que disseram inicialmente os responsáveis pelo resgate das vítimas, não se formaram bolsões de ar sob os escombros. Não havia grandes lajes de concreto sustentadas por pilares que pudessem servir de proteção às vítimas dos desabamentos, e sim estruturas que, ao desmoronar, transformaram-se em uma montanha de entulho.”

(Reportagem de Ceília Ritto, Lucila Soares, João Marcello Erthal e Rafael Lemos. Revista Veja, 26/01/2012 - 15:55)

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“Peso do entulho nos dois andares em obras causava apreensão em alguns moradores do local ... quatro sacos de cimento armazenados no terceiro andar...
Contratado pela TO, o engenheiro calculista Paulo Sérgio da Cunha Brasil ... também disse ter achado estranho que Renha (síndico Paulo Renha) não tenha apresentado questionamentos sobre uma parede que ele viu sendo erguida no terceiro andar. "Isso o síndico não questionou. E a parede é mais pesada que os sacos de cimento", disse.” (Estadão, 270112)

Entulho, sacos de cimento, tira parede antiga, põe parede nova, tá todo mundo louco, ô-ba! Cuidado, o perigo é teu vizinho, tu podes até fazer tudo certinho, mas se o teu vizinho não fizer, teu prédio vai cair na tua cabeça.

(foto do Wilton Júnior/ AE, atirada 1 dia antes da “implosão” do edifício Liberdade aparecendo também o teto do edifício Colombo que foi derrubado pelo vizinho, ambos atrás do Teatro Municipal do Rio)
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