“Vulnerabilidade Masculina
Sunday, 05 July 2009, 15:37
Escrito por A. L. Kennedy, nomeada pela revista literária Granta em 2001 como uma das melhores escritoras jovens do Reino Unido.
Ah, os homens. Ah, generalizações momentais. Claro, é melhor não juntar os dois. Mas no meu cérebro réptil eles estão juntos, porque sou uma criatura de hormônios e fluidos naturais e, para mim, os homens se dividem entre os Atraentes e os Não Atraentes. Aqueles na primeira categoria podem se comportar como visigodos e ficar impunes, e aqueles na segunda categoria podem ser santos com diplomas em física nuclear e músculos dos deuses, mas continuariam completamente desinteressantes.
Todos os homens são bobos. Eu sei, eu sei, isso é uma generalização, mas pensei muito nisso e ainda diria que é verdade. Por exemplo, eu passei quatro horas em lojas com um homem que agonizava com o processo de comprar calças. O vendedor da primeira loja o fez sentir-¬se velho, o da segunda loja o fez sentir-se gorddo, e depois ele se estressou com seu cabelo – e com a probabilidade de morrer sozinho – e quase ficou histérico quando não conseguiu explicar para um vendedor que ele, na verdade, não queria provar a capa de chuva.
Os homens não querem ter um repertorio de roupas tão pequeno; não querem vestir somente paletós e gravatas e jeans e agasalhos – estão simplesmente com medo de tentar outra coisa. É preciso muito estímulo para convencer um homem a trocar suas meias. Às vezes, os homens aparecem corajosamente em novas cores, mas isso requer o apoio de outros homens compreensivos e seguros, que estão acostumados com a adversidade e conhecem tecidos exóticos.
Homens que se vestem como sofás abandonados e cujo regime de manutenção pessoal se baseia em sabonetes roubados de banheiros públicos e ocasionais lavagens com água fria não são preguiçosos e asquerosos, são apenas homens que desistiram, que não conseguiram suportar o peso de sua feiura. Espera-se que os homens gostem e saibam de futebol, furadeiras, motores, mas muitos são tragicamente ineptos para os reparos domésticos e o esporte. Homens se sentem proibidos de ler manuais de instrução, não pedem informações e nunca estão errados.
Adicione a tudo isso o fato de que os homens precisam brigar – em guerras, em bares, na fila do correio – e é fácil entender que passam suas vidas tomados por uma mistura de tensão nervosa e sensações de calamidade repentina.
Talvez, por algumas das razões acima, meus relacionamentos com homens sejam uma série de batidas de carrro em câmera lenta. Mas agora, depois de uma reflexão madura, descobri um fato que poderia ter me ajudado na abordagem das contingências masculinas: os homens se parecem essencialmente com cavalos.
O que quero dizer é que, se você precisou lidar com cavalos, sabe que são coisas grandes, poderosas e frequentemente bonitas. Mas também têm medo de pó, ar, jornais, trânsito, barulho alto, barulho baixo, barulho médio, de outros cavalos e de qualquer outra coisa que inventem. Trilham um caminho estreito entre a exaustão nervosa, uma perna quebrada e uma tosse potencialmente fatal. Se ficarem suficientemente amedrontados, podem matar por engano, mas, se tratados com consideração, podem ser confiáveis e trabalharão para você em troca de alguns pedaços de alcaçuz e uma palavra bondosa.
Então falem docemente com seus homens, passem a mão em suas testas, não façam movimentos bruscos e logo verão que eles podem se tornar amigos para toda a vida. Seja suave – eles podem parecer barulhentos e inconvenientes, às vezes -, pois ainda valem o esforço. E, acima de tudo, mantenha-os longe de generalizações que os irritem ou que afetem a sua autoestima.”
(da série “A essência do macho”, publicada no “The Observer”)