"Quatro dias após tomar posse, Dodge sofre primeira baixa na PGR
Sidney Pessoa Madruga, procurador regional da República, foi flagrado dizendo que a nova gestão deverá investigar o ex-chefe de gabinete de Rodrigo Janot"
Não nascemos todos bons ou todos maus, muitos nascem bons e muitos nascem maus, numa variação de intensidade na quantidade de grãos de areia duma praia.
Nós não somos criaturas, somos criadores.
"O homem virtuoso, “escravo” das expectativas dos outros, das boas e das más opiniões, faz-se dissimulado, ao mesmo tempo culpado e infeliz." ( Nietzsche)
por Eliane Boscatto
Nós não somos criaturas, somos criadores.
"O homem virtuoso, “escravo” das expectativas dos outros, das boas e das más opiniões, faz-se dissimulado, ao mesmo tempo culpado e infeliz." (
por Eliane Boscatto
"É fato que muito se escreveu e se escreve sobre
a obra de Nietzsche, e de que a vontade de tentar compreendê-la nunca se
esgota. Além do Bem e do Mal foi considerado pelo autor
seu livro mais importante e abrangente. E podemos aqui tentar tecer algumas
reflexões de forma inteligível, o que não é fácil e é até uma pretensão fazê-lo
em tão poucas palavras. Por sinal, Nietzsche não pretendeu ser inteligível.
Vamos apenas considerar que o mais fascinante na filosofia são as perguntas que
ela provoca, e em especial na obra do filósofo alemão, a curiosidade que ela
atiça. Mas que não esperemos respostas prontas e sob medida. Ele foi um
pensador rebelde em sua época; e tentar domesticar ou demonizar Nietzsche não
ajuda a compreender sua obra.
Esta é a melhor definição que já vi sobre a forma como Nietzsche se
comunica com seus leitores: “às vezes Nietzsche parece estar gritando conosco;
em outras parece sussurrar algo profundo em nossos ouvidos”.
Além do Bem e do Mal foi redigido no verão de 1885, na localidade de Sils Maria, na
Suiça, e no inverno de 1885-6, em Nice, sul da França. Mas na redação foram
incorporadas anotações anteriores da primeira metade da década. Após ser
recusado por vários editores, Além do Bem e do Mal foi publicado às custas do
autor, em agosto de 1886, numa edição de trezentos exemplares. Quase um ano
depois, apenas 114 exemplares haviam sido vendidos, e 66 tinham sido enviados
para jornais e revistas. Numa carta a seu amigo Peter Gast, Nietzsche disse:
“Muito instrutivo! Ninguém quer o que eu escrevo”. Porém, mais de cem anos
depois, a opinião da posteridade confirmou a do autor sobre a importância da
obra: “É um dos grandes livros do século XIX, e mesmo de qualquer século”, nas
palavras de Walter Kaufmann.
Dúvidas antigas sobre a moral humana: nossa essência é boa ou má?
Nascemos bons e nos tornamos maus ou já nascemos maus e o meio é que nos coloca
freios morais? Ou será que não nascemos nem bons nem maus, apenas dotados de
instintos? E ainda, de onde surgiram os conceitos de bondade e maldade? Para
Nietzsche, a religião, especialmente o cristianismo no Ocidente, criou valores
que limitam o homem a se superar. A expressão “instinto de rebanho” em
Nietzsche vem talvez de um conceito religioso, no qual a moral ensina ao indivíduo
a só atribuir valor em função do “rebanho”, que também poderia ser traduzido em
Estados e sociedades. O homem virtuoso, “escravo” das expectativas dos
outros, das boas e das más opiniões, faz-se dissimulado, ao mesmo tempo culpado
e infeliz.
“É por nossas
virtudes que somos mais bem punidos”
Para Nietzsche, os valores não são verdades divinas imutáveis e sim
criados por nós, portanto dependentes do tempo e do espaço em que se
manifestam. Os critérios religiosos de bondade e compaixão que nos foram impostos
acabaram se tornando um instrumento de barganha divina em troca de uma suposta
imortalidade e felicidade eternas. Quando Nietzsche disse “Deus está morto”,
ele estava querendo dizer que a crença em Deus estava deixando de ser razoável.
E o que seria então do homem abandonado a si mesmo? Se Deus está morto e não
serei mais recompensado e nem corro o risco de ser punido, então vale tudo? Não
existe mais o bem e o mal?
E como
fica nosso medo da morte? Não temos mais chance de sermos eternos e eternamente
felizes e reencontrarmos nossos antepassados no paraíso? (Cabano)
Preferimos não nos confrontar com nossa realidade, pois se a
conhecêssemos, possivelmente ela não nos agradaria, e quem sabe quando
desejamos destruir algo no outro, queremos destruir aquilo que não suportamos
em nós mesmos. A questão é até quanto podemos suportar de realidade. No
entanto, Nietzsche não pretende dar uma solução para esse conflito
essência/aparência, sendo o termo “aparência” na sua filosofia o mesmo que
fenômeno, e a única maneira ao nosso alcance de conhecer e perceber o mundo.
Não é para menos que o existencialismo, a filosofia analítica e a psicanálise
tiveram em Nietzsche seu precursor.
Embora os filósofos se orgulhem de seus pensamentos e muitas vezes
se gabem de ter encontrado respostas para as questões da existência humana, o
homem continua a se envolver numa batalha sangrenta consigo mesmo (o que talvez
mais tarde, na psicanálise, Freud definiria como conflito entre o Id e o Ego).
Não há então para o homem resolução possível. As soluções que lhe são propostas
são meras ilusões. Ao mesmo tempo, a ilusão pode ser uma solução na medida que
permite celebrar a vida dentro
de seus limites, em uma espécie de “ilusão consciente”.
O que afinal Nietzsche quer dizer quando fala em “ir além do bem e
do mal”?
É possível que ele queira nos fornecer coragem para transcender o
nosso modo de ser, ou melhor dizendo, um modo de consciência que observa o
mundo sem definir as coisas como boas ou más, e sim apreendendo-as como se
revelam para nós. Quem sabe podemos chamar essa condição de uma “grande
lucidez”.
“O que alguém é começa a se revelar
quando o seu talento declina – quando ele cessa de mostrar o quanto pode. O
talento é também um ornamento; um ornamento é também um esconderijo.” (Nietzsche em Além do Bem e do Mal)"
Se os animais Homens forem além do Bem,
chegarão ao Mal, que nada mais é do que o instinto selvagem do animal original que
ainda habita o subconsciente e esse animal primordial é sufocado através do
controle exercido pelo Bem criado pelo próprio Homem para conviver da melhor
maneira possível com seus semelhantes.
O Mal natural da etapa anterior de sua evolução é controlado pelo Bem, desenvolvido no atual nível evolutivo. O próximo nível pode ser produzido e construído conscientemente pelo Homem moderno, talvez até eliminando todo o Mal das etapas anteriores. (Cabano)
O Mal natural da etapa anterior de sua evolução é controlado pelo Bem, desenvolvido no atual nível evolutivo. O próximo nível pode ser produzido e construído conscientemente pelo Homem moderno, talvez até eliminando todo o Mal das etapas anteriores. (Cabano)