sábado, 23 de setembro de 2017

OS ANTI-CORRÚPUTOS

COMEÇAM A PULAR FORA.

"Quatro dias após tomar posse, Dodge sofre primeira baixa na PGR

Sidney Pessoa Madruga, procurador regional da República, foi flagrado dizendo que a nova gestão deverá investigar o ex-chefe de gabinete de Rodrigo Janot"


Não nascemos todos bons ou todos maus, muitos nascem bons e muitos nascem maus, numa variação de intensidade na quantidade de grãos de areia duma praia.

Nós não somos criaturas, somos criadores.

"O homem virtuoso, “escravo” das expectativas dos outros, das boas e das más opiniões, faz-se dissimulado, ao mesmo tempo culpado e infeliz." (Nietzsche)


por Eliane Boscatto

"É fato que muito se escreveu e se escreve sobre a obra de Nietzsche, e de que a vontade de tentar compreendê-la nunca se esgota. Além do Bem e do Mal foi considerado pelo autor seu livro mais importante e abrangente. E podemos aqui tentar tecer algumas reflexões de forma inteligível, o que não é fácil e é até uma pretensão fazê-lo em tão poucas palavras. Por sinal, Nietzsche não pretendeu ser inteligível. Vamos apenas considerar que o mais fascinante na filosofia são as perguntas que ela provoca, e em especial na obra do filósofo alemão, a curiosidade que ela atiça. Mas que não esperemos respostas prontas e sob medida. Ele foi um pensador rebelde em sua época; e tentar domesticar ou demonizar Nietzsche não ajuda a compreender sua obra.

Esta é a melhor definição que já vi sobre a forma como Nietzsche se comunica com seus leitores: “às vezes Nietzsche parece estar gritando conosco; em outras parece sussurrar algo profundo em nossos ouvidos”.

Além do Bem e do Mal foi redigido no verão de 1885, na localidade de Sils Maria, na Suiça, e no inverno de 1885-6, em Nice, sul da França. Mas na redação foram incorporadas anotações anteriores da primeira metade da década. Após ser recusado por vários editores, Além do Bem e do Mal foi publicado às custas do autor, em agosto de 1886, numa edição de trezentos exemplares. Quase um ano depois, apenas 114 exemplares haviam sido vendidos, e 66 tinham sido enviados para jornais e revistas. Numa carta a seu amigo Peter Gast, Nietzsche disse: “Muito instrutivo! Ninguém quer o que eu escrevo”. Porém, mais de cem anos depois, a opinião da posteridade confirmou a do autor sobre a importância da obra: “É um dos grandes livros do século XIX, e mesmo de qualquer século”, nas palavras de Walter Kaufmann.

Dúvidas antigas sobre a moral humana: nossa essência é boa ou má? Nascemos bons e nos tornamos maus ou já nascemos maus e o meio é que nos coloca freios morais? Ou será que não nascemos nem bons nem maus, apenas dotados de instintos? E ainda, de onde surgiram os conceitos de bondade e maldade? Para Nietzsche, a religião, especialmente o cristianismo no Ocidente, criou valores que limitam o homem a se superar. A expressão “instinto de rebanho” em Nietzsche vem talvez de um conceito religioso, no qual a moral ensina ao indivíduo a só atribuir valor em função do “rebanho”, que também poderia ser traduzido em Estados e sociedades. O homem virtuoso, “escravo” das expectativas dos outros, das boas e das más opiniões, faz-se dissimulado, ao mesmo tempo culpado e infeliz.
“É por nossas virtudes que somos mais bem punidos”

Para Nietzsche, os valores não são verdades divinas imutáveis e sim criados por nós, portanto dependentes do tempo e do espaço em que se manifestam. Os critérios religiosos de bondade e compaixão que nos foram impostos acabaram se tornando um instrumento de barganha divina em troca de uma suposta imortalidade e felicidade eternas. Quando Nietzsche disse “Deus está morto”, ele estava querendo dizer que a crença em Deus estava deixando de ser razoável. E o que seria então do homem abandonado a si mesmo? Se Deus está morto e não serei mais recompensado e nem corro o risco de ser punido, então vale tudo? Não existe mais o bem e o mal?

E como fica nosso medo da morte? Não temos mais chance de sermos eternos e eternamente felizes e reencontrarmos nossos antepassados no paraíso? (Cabano)

Preferimos não nos confrontar com nossa realidade, pois se a conhecêssemos, possivelmente ela não nos agradaria, e quem sabe quando desejamos destruir algo no outro, queremos destruir aquilo que não suportamos em nós mesmos. A questão é até quanto podemos suportar de realidade. No entanto, Nietzsche não pretende dar uma solução para esse conflito essência/aparência, sendo o termo “aparência” na sua filosofia o mesmo que fenômeno, e a única maneira ao nosso alcance de conhecer e perceber o mundo. Não é para menos que o existencialismo, a filosofia analítica e a psicanálise tiveram em Nietzsche seu precursor.

Embora os filósofos se orgulhem de seus pensamentos e muitas vezes se gabem de ter encontrado respostas para as questões da existência humana, o homem continua a se envolver numa batalha sangrenta consigo mesmo (o que talvez mais tarde, na psicanálise, Freud definiria como conflito entre o Id e o Ego). Não há então para o homem resolução possível. As soluções que lhe são propostas são meras ilusões. Ao mesmo tempo, a ilusão pode ser uma solução na medida que permite celebrar a vida dentro de seus limites, em uma espécie de “ilusão consciente”.

O que afinal Nietzsche quer dizer quando fala em “ir além do bem e do mal”?
É possível que ele queira nos fornecer coragem para transcender o nosso modo de ser, ou melhor dizendo, um modo de consciência que observa o mundo sem definir as coisas como boas ou más, e sim apreendendo-as como se revelam para nós. Quem sabe podemos chamar essa condição de uma “grande lucidez”.
“O que alguém é começa a se revelar quando o seu talento declina – quando ele cessa de mostrar o quanto pode. O talento é também um ornamento; um ornamento é também um esconderijo.”  (Nietzsche em Além do Bem e do Mal)"

Se os animais Homens forem além do Bem, chegarão ao Mal, que nada mais é do que o instinto selvagem do animal original que ainda habita o subconsciente e esse animal primordial é sufocado através do controle exercido pelo Bem criado pelo próprio Homem para conviver da melhor maneira possível com seus semelhantes.

O Mal natural da etapa anterior de sua evolução é controlado pelo Bem, desenvolvido no atual nível evolutivo. O próximo nível pode ser produzido e construído conscientemente pelo Homem moderno, talvez até eliminando todo o Mal das etapas anteriores. (Cabano)