sábado, 19 de abril de 2014

VIDAS DESCARTADAS

Brasília 54 anos. Debaixo do tapete vermelho da festa.

"Engenharia

A saga da construção

Há uma única unanimidade, o épico feito de erguer uma metrópole do nada em menos de quatro anos

Ronaldo Costa Couto"

(rev. Veja, nos 50 anos de Brasília)

http://veja.abril.com.br/especiais/brasilia/saga-construcao-p-102.html


“Quem em noite de lua
Da Esplanada dos Ministérios
Se aproxima há de ouvir u'a
Voz que ecoa, entre blocos
E um aboio assim sentido
De onde vem? Mistério.

Se aqui não há bois
Se não pastam nestes gramados
Vacas, touros, marruás
De onde vem esse aboio,
Que bichos ele conduz,
Que ameaças nos trará?

Que segredo esconde
Essa aparição medonha
Será milagre de Deus
Será alguma peçonha?
Se quer saber então ouça
Não faça cerimônia

...

"Ei-lo caído de bruços
Para o campo paramentado
Peitoral, perneira, gibão
Chapéu passado o barbicacho
Voou no rabo da rês
Mas só chão havia embaixo

...“

“E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido”

E o vaqueiro estatelou fazendo um borrão de sangue no cimentado do serrado.

Nem um monumento aos candangos que deram a vida por Brasília, literalmente.

Hoje que tem tanta tecnologia e leis de prevenção de acidentes vive tendo mortes de operários, dá pra imaginar quantas centenas de candangos morreram, pois não tinha sinto de segurança, normas de segurança, trabalhando sob a pressão do estresse da urgência do JK e do Israel Pinheiro para entregar no prazo, a facilidade de substituir operários, morreu? põe outro.

(Romance do vaqueiro voador, de João Bosco Bezera Bonfim)

(foto: Geraldo Vieira)