sábado, 19 de abril de 2014

VIDAS SEM VALOR

A grande importância e consideração para com os candangos.

“Tragédia

A ordem: É proibido parar

O suposto assassinato de operários num canteiro de obras ainda hoje é um fantasma brasiliense

Um mito ronda a construção de Brasília: a suposta matança, em 8 de fevereiro de 1959, um domingo de Carnaval, de um grupo de operários da construtora Pacheco Fernandes. Os crimes teriam sido cometidos pela Guarda Especial de Brasília (GEB), vinculada à Novacap. Desde sempre, o episódio faz parte da história secreta da construção. Em diversas versões, os mortos vão de um a onze, com mais de sessenta feridos e paralisações em solidariedade aos assassinados. Os motivos: uma briga corriqueira, na cozinha, entre dois trabalhadores ou a explosão de protestos pela má qualidade da alimentação do acampamento, ao lado do Palácio da Alvorada. Os policiais – um efetivo de 300 pessoas, recrutadas entre os próprios candangos – tinham justificada fama de agressividade, eram eles que impunham o toque de recolher. Cortavam a água para impedir banhos, e sem banho ninguém ousaria procurar prostitutas na Cidade Livre. Os soldados usavam uniformes de cor cáqui, feitos com sobras das roupas da Força Aérea Brasileira. Eram chamados a manter a ordem porque Brasília não podia parar.

Depoimentos contraditórios impediram um desfecho para o caso, agora transformado em lenda. Um cozinheiro diz ter visto operários sendo mortos na cama, ainda adormecidos. Houve relatos de corpos jogados no Lago Paranoá, ainda seco. As investigações nada comprovaram, e prevaleceu a suspeita de que a escaramuça, real, tenha sido ampliada por líderes sindicalistas – ou tirada do mapa pelas autoridades, a mando de Israel Pinheiro. Não houve condenações. Não se conhecem o nome dos mortos ou sepulturas. O massacre virou lenda – menor apenas que uma outra, segundo a qual dezenas de operários morreram ao erguer os "28" (referência aos 28 andares de cada um dos dois edifícios anexos do Congresso, aqueles que formam um "H" entre as cúpulas), e ainda hoje seus fantasmas rondam o lugar, tal qual os arranca-línguas que, no folclore de Goiás, atacam os bois no pasto."

(Veja)