Quando eu entrei no meio do mato,/ Onde os cipós não me deixavam ir além,/ Fiz com um gomo de taquaruçu/ Um porta voz./ E gritei bem alto://
"Páááátria!!! Eu quero te ver!!!"//
Pois me haviam contado/ Que era ali que morava/ Numa casa de arvores,/ Gritei tão alto/ Que minha voz abriu uma picada/ No meio do mato.//
Gritei tão alto/ Que a algazarra das araras/ E os guinchos dos saguis/ Não conseguiram abafar a minha voz./ Que lá foi, tropeçando nos cipós,/ Chamar a Pátria que velava./ Depois o silêncio, que é um índio verde,/ Veio, com os pés de musgo/ E mãos de paina,/ Aquietar as folhas que falavam,/ Veio cercar o vento que assobiava.//
Depois o mato vibrou, como vibra/ Quando passam as antas pesadas/ E varas de caititus./ Houve um estalar de gravetos e de taquaras,/ E até as araras se calaram pasmadas.../ E aos meus olhos maravilhados,/ Surgiu uma índia vestida de penas,/ que tinha no corpo moreno/ a altivez dos palmitos/ e que trazia nos olhos oblíquos e negros,/ como as sementes do guaraná/ a alegria de um dia de sol./ E ficou, espantada, a olhar pra mim.../ E fiquei deslumbrado com tanta beleza,/ Pois não me haviam contado/ Que minha Pátria era tão bonita assim.
(Pátria - Vinícius Méier)