“Mas a fala brasileira é mutante e díspare, cada região tem sua peculiaridade. Como romper regras da língua sem cair no vale-tudo? Se não houver norma não há como transgredir. A língua tem variantes, mas temos de ensinar a escrever o padrão. Quem transgride tem nome ou peito que o faça e arque com as conseqüências. Mas insisto que a escrita é apenas o registro da língua falada. De Machado de Assis pra cá, tudo mudou. A língua alemã fez reforma ortográfica há 50 anos, correta. Aqui, na minha geração, já foram três reformas do gênero, uma mais maluca que a outra. Botaram acento em "boemia", escreveram "xeque" quando toda língua busca lembrar o árabe "shaik", insistiram que o certo é "veado" quando o Brasil inteiro pronuncia "viado". Chamar viado de "veado" é coisa de viado. Quando chegaram a tais conclusões? Essas coisas são idiotas e cabe a você aceitar ou não. Veja o caso da crase. A crase, na prática, não existe no português do Brasil. Já vi tábuas de mármore com crase errada. Se todo mundo erra, a crase é quem está errada. Se vamos atribuir crase ao masculino "dar àquele", por que não fazer o mesmo com "dar à alguém"? Não podemos.” (“Milhor” Fernandes)